A ergonomia na construção civil representa um campo fundamental para a proteção da saúde dos trabalhadores.
Derivada do grego “ergon” (trabalho) e “nomos” (leis), esta ciência estuda e aplica normas que tornam as atividades laborais compatíveis com as características físicas humanas.
Os profissionais que atuam em canteiros de obras enfrentam diariamente desafios físicos intensos. Levantamento de materiais pesados, posturas inadequadas e movimentos repetitivos são rotina neste ambiente.
Estas condições tornam estes trabalhadores particularmente vulneráveis a problemas vertebrais que podem comprometer sua qualidade de vida.
Dados estatísticos revelam que as dores e lesões na coluna estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil.
No setor da construção civil, estes números são ainda mais expressivos, gerando impactos significativos tanto para os trabalhadores quanto para as empresas.
A ergonomia na construção civil não representa apenas uma questão de conforto momentâneo. Trata-se de uma necessidade para garantir a saúde ocupacional a longo prazo e prevenir lesões permanentes que podem encerrar carreiras precocemente.
Conhecer e aplicar princípios ergonômicos durante as atividades em obras é essencial para preservar a integridade da coluna vertebral.
As orientações que apresentaremos a seguir podem transformar significativamente a rotina laboral, proporcionando mais segurança e longevidade profissional.
Os impactos do trabalho na construção civil para a saúde da coluna
A relação entre as atividades da construção civil e os problemas de coluna representa um dos maiores desafios para a saúde ocupacional no Brasil.
O setor exige esforço físico intenso e movimentos que, quando realizados sem os devidos cuidados, podem resultar em danos significativos à coluna vertebral.
A proteção da coluna vertebral torna-se, portanto, uma prioridade que merece atenção tanto dos trabalhadores quanto das empresas.
As condições dos canteiros de obras, frequentemente caracterizadas por superfícies irregulares e espaços confinados, aumentam consideravelmente o risco de lesões.
Além disso, a pressão por produtividade muitas vezes leva os profissionais a negligenciarem práticas seguras, comprometendo sua saúde a longo prazo.
Estatísticas de lesões na coluna entre trabalhadores brasileiros
Segundo dados apresentados pelo Ministério do Trabalho (2016), as principais causas de afastamentos superiores a 15 dias estão diretamente relacionadas a dores nas costas.
Este cenário é particularmente preocupante no setor da construção civil, onde as atividades exigem constante esforço físico.
No Brasil, aproximadamente 65% dos diagnósticos de doenças ocupacionais são decorrentes dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORTs).
Estes distúrbios afetam significativamente a qualidade de vida dos trabalhadores e representam um alto custo para o sistema de saúde e previdenciário.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta dados ainda mais alarmantes: 8 em cada 10 pessoas enfrentarão problemas de coluna em algum momento da vida.
Para trabalhadores da construção civil, esse risco é consideravelmente maior devido às condições específicas de trabalho.
Fatores de risco específicos do setor da construção
O levantamento de cargas pesadas figura entre os principais fatores de risco para lesões na coluna no setor da construção.
Quando realizado sem técnica adequada, este esforço pode causar danos imediatos ou cumulativos à região lombar.
Os movimentos repetitivos e as posturas inadequadas mantidas por longos períodos também contribuem significativamente para o desenvolvimento de problemas na coluna.
Trabalhadores que permanecem agachados, curvados ou com o pescoço flexionado por horas estão particularmente vulneráveis.
A vibração constante de certas máquinas e a necessidade de aplicar força em posições desconfortáveis aumentam o risco de lesões, tornando essencial a implementação de medidas eficazes para a prevenção de lesões.
7 dicas de como trabalhar em obras sem prejudicar a coluna
De acordo com um cirurgião especialista em hérnia de disco, proteger a coluna durante as atividades na construção civil requer conhecimento e disciplina.
O trabalho em canteiros de obras impõe desafios diários à saúde da coluna vertebral, mas com as técnicas corretas, é possível reduzir significativamente os riscos de lesões.
Confira a seguir sete dicas fundamentais que todo trabalhador da construção civil deve conhecer e aplicar para preservar a saúde da sua coluna.
1. Adote posturas corretas ao levantar e carregar materiais
A maneira como você levanta e carrega materiais faz toda diferença na proteção da sua coluna. Ao pegar objetos do chão, flexione os joelhos e mantenha a coluna ereta, evitando dobrar as costas. Esta técnica transfere o esforço para as pernas, que são mais fortes e preparadas para suportar cargas.
Rodrigues Junior (2012) destaca que a postura corporal inadequada é um dos principais fatores para o surgimento de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.
Mantenha sempre a carga próxima ao corpo e evite movimentos de torção enquanto estiver carregando peso. Quando precisar mudar de direção, mova os pés em vez de girar o tronco.
2. Utilize equipamentos de proteção individual adequados
Os equipamentos de proteção não servem apenas para cumprir normas de segurança no trabalho, mas são essenciais para preservar sua saúde a longo prazo.
Para a proteção específica da coluna, considere o uso de cintos lombares estabilizadores durante atividades que exigem grande esforço físico.
Calçados apropriados com amortecimento adequado também são fundamentais, pois absorvem o impacto que seria transmitido para a coluna.
Lembre-se que os EPIs devem ser utilizados conforme orientação técnica e precisam estar em bom estado de conservação para garantir sua eficácia na prevenção de lesões.
3. Faça pausas regulares durante o trabalho
O corpo humano não foi projetado para manter a mesma posição ou realizar movimentos repetitivos por longos períodos.
Implementar micro-pausas de 5 a 10 minutos a cada hora de trabalho permite que os músculos se recuperem e reduz a fadiga acumulada na região lombar.
Durante essas pausas, realize alongamentos simples para relaxar a musculatura da coluna. Estender os braços para cima, girar suavemente o tronco para os lados e inclinar o corpo para frente com os joelhos levemente flexionados são exercícios rápidos que podem ser feitos no próprio local de trabalho, promovendo alívio imediato e prevenindo tensões musculares.
4. Pratique exercícios de fortalecimento muscular
Uma coluna bem protegida depende diretamente da força dos músculos que a sustentam. Dedique tempo para fortalecer especificamente a musculatura abdominal e lombar, criando um “colete natural” de proteção para sua coluna vertebral.
Exercícios como a prancha frontal, elevação de quadril e abdominais adaptados podem ser realizados em casa, sem necessidade de equipamentos sofisticados. O ideal é praticar estes exercícios pelo menos três vezes por semana, por cerca de 15 a 20 minutos.
Consulte um profissional de educação física para orientações personalizadas sobre a execução correta dos movimentos.
5. Ajuste a altura das superfícies de trabalho
Trabalhar em altura inadequada força a coluna a permanecer em posições prejudiciais por longos períodos.
Sempre que possível, ajuste a altura das superfícies de trabalho para que fiquem aproximadamente na altura do seu cotovelo, permitindo que a coluna permaneça em posição neutra.
Utilize andaimes, plataformas elevadas ou suportes para posicionar materiais em altura confortável, evitando flexões excessivas da coluna.
Como mostra o estudo de Rodrigues Junior (2012), quando os materiais estão posicionados em locais elevados, o trabalhador não precisa se abaixar constantemente, reduzindo significativamente o estresse na região lombar.
6. Utilize ferramentas ergonômicas
Ferramentas com design ergonômico são desenvolvidas para reduzir o esforço físico e adaptar-se melhor ao corpo humano.
Opte por equipamentos com cabos anatômicos, que permitam manter os pulsos em posição neutra e reduzam a necessidade de força excessiva durante o uso.
Cabos extensores, ferramentas com amortecimento de vibração e equipamentos mais leves contribuem significativamente para diminuir o impacto na coluna vertebral.
O investimento em ferramentas de qualidade e ergonomicamente adequadas traz retorno direto em termos de saúde ocupacional e produtividade, além de reduzir o risco de afastamentos por lesões.
7. Distribua o peso adequadamente ao carregar materiais
Quando precisar transportar materiais pesados, divida a carga em volumes menores sempre que possível. Carregar 20kg de uma vez gera muito mais estresse na coluna do que fazer duas viagens com 10kg cada. Utilize carrinhos de mão, paleteiras ou outros equipamentos de transporte para cargas mais pesadas.
Ao carregar materiais, distribua o peso igualmente entre os dois lados do corpo para manter o equilíbrio. Evite carregar objetos apenas de um lado, pois isso força a coluna a compensar o desequilíbrio, podendo causar tensões musculares e desvios posturais com o tempo.
Lembre-se que a prevenção é sempre o melhor caminho para garantir uma vida profissional longa e saudável.
Ergonomia aplicada ao canteiro de obras
A aplicação da ergonomia em canteiros de obras representa um avanço significativo na proteção da saúde dos trabalhadores da construção.
Desde sua origem formal em 12 de julho de 1949, quando cientistas se reuniram na Inglaterra para estabelecer este campo interdisciplinar, a ergonomia evoluiu consideravelmente.
No contexto da construção civil, sua implementação adequada pode prevenir lesões na coluna vertebral e aumentar a produtividade.
O princípio fundamental da ergonomia é adaptar o trabalho ao ser humano, e não o contrário. Quando aplicamos este conceito no canteiro de obras, criamos um ambiente que respeita as limitações físicas dos trabalhadores e promove sua segurança e bem-estar a longo prazo.
Princípios básicos de ergonomia na construção civil
A ergonomia na construção civil baseia-se em três dimensões essenciais: física, cognitiva e organizacional. A dimensão física trata da adequação de posturas, movimentos e forças aplicadas durante as atividades laborais.
Já a dimensão cognitiva considera a carga mental e a tomada de decisões, enquanto a organizacional aborda a estruturação do trabalho.
Para proteger a coluna vertebral, é fundamental aplicar princípios como a minimização de esforços desnecessários e a eliminação de posturas extremas.
O planejamento ergonômico deve considerar a frequência das tarefas, o peso dos materiais manipulados e as distâncias percorridas com carga.
A implementação desses princípios requer uma análise detalhada das tarefas realizadas no canteiro, identificando pontos críticos onde ajustes ergonômicos podem prevenir lesões.
Esta abordagem preventiva é mais eficaz e econômica que medidas corretivas posteriores.
Adaptação do ambiente para reduzir o impacto na coluna
A adaptação do ambiente de trabalho começa pelo layout do canteiro de obras. A disposição estratégica de materiais e equipamentos pode reduzir significativamente a necessidade de deslocamentos com carga, diminuindo o estresse na coluna vertebral dos trabalhadores.
Medidas práticas incluem a instalação de plataformas ajustáveis para trabalhos em diferentes alturas, evitando que o trabalhador precise se curvar ou esticar excessivamente.
Estações de trabalho temporárias ergonomicamente planejadas também contribuem para manter posturas neutras durante atividades prolongadas.
O uso de equipamentos mecânicos auxiliares, como guindastes, carrinhos e elevadores, é essencial para o transporte de materiais pesados.
Estes dispositivos reduzem drasticamente a carga sobre a coluna e previnem lesões por esforço repetitivo, sendo um investimento valioso em segurança no trabalho.
A iluminação adequada também é um fator ergonômico importante, pois evita que o trabalhador adote posturas inadequadas para compensar a má visibilidade.
Superfícies de trabalho na altura correta completam o conjunto de adaptações que protegem a saúde da coluna no ambiente da construção civil.
Exercícios compensatórios para trabalhadores da construção
Para quem trabalha em obras, incorporar exercícios compensatórios na rotina é essencial para a proteção da coluna vertebral.
A atividade física proporciona saúde, conforto e bem-estar, tornando-se um investimento direto na produtividade dos colaboradores.
Segundo o ortopedista Alberto Gotfryd, a musculatura que envolve a região lombar precisa ser trabalhada e fortalecida para minimizar os incômodos, funcionando como um suporte adicional à sustentação de peso.
A ginástica laboral, realizada no próprio ambiente de trabalho, representa uma excelente alternativa para integrar esses exercícios à rotina diária, contribuindo significativamente para a prevenção de lesões e manutenção da saúde ocupacional.
Alongamentos para realizar antes e depois da jornada
Iniciar e finalizar o dia de trabalho com alongamentos específicos pode fazer toda diferença na saúde da coluna.
Pela manhã, antes de começar as atividades, dedique 5 minutos para alongar a região lombar: deite-se de costas e traga os joelhos em direção ao peito, mantendo a posição por 30 segundos.
Para a região cervical, realize rotações suaves do pescoço em sentido horário e anti-horário, 5 vezes para cada lado.
Alongue também os ombros, levando um braço esticado à frente do corpo e pressionando-o contra o peito com o outro braço.
Ao final do expediente, priorize alongamentos para as pernas: em pé, dobre uma perna para trás e segure o pé com a mão, mantendo por 15 segundos cada lado.
Esses exercícios simples ajudam a relaxar a musculatura tensionada durante o trabalho e previnem o acúmulo de tensão na coluna.
Exercícios de fortalecimento para realizar em casa
Complementar os alongamentos com exercícios de fortalecimento muscular em casa é fundamental para a proteção da coluna vertebral a longo prazo.
Para fortalecer o core, deite-se de costas com os joelhos dobrados e pés apoiados no chão. Contraia o abdômen e eleve levemente os ombros do chão, mantendo por 10 segundos. Repita 10 vezes.
O exercício “superman” é excelente para fortalecer as costas: deite-se de bruços, estenda os braços à frente e eleve simultaneamente braços e pernas, mantendo por 5 segundos. Realize 3 séries de 10 repetições.
Para fortalecer glúteos e pernas, faça agachamentos encostando as costas na parede, descendo até formar um ângulo de 90° com os joelhos.
Mantenha a posição por 30 segundos e repita 5 vezes. Estes exercícios não exigem equipamentos especiais e podem ser realizados em apenas 15 minutos diários, trazendo benefícios significativos para a prevenção de lesões na coluna.
Implementando a cultura de proteção à coluna no ambiente de trabalho
Criar uma cultura de proteção à coluna no setor da construção civil exige esforço conjunto de gestores e trabalhadores.
O treinamento de funcionários deve ser regular e prático, demonstrando as técnicas corretas para levantamento de cargas e posturas adequadas durante as atividades.
A Norma Regulamentadora nº 17 estabelece parâmetros que permitem adaptar as condições de trabalho às características dos trabalhadores. Empresas que seguem essas diretrizes registram menos afastamentos por problemas na coluna e maior produtividade.
Para implementar efetivamente as 7 dicas de como trabalhar em obras sem prejudicar a coluna, é fundamental que supervisores e líderes deem o exemplo, praticando e incentivando comportamentos seguros.
Cartazes ilustrativos no canteiro de obras e reuniões rápidas de segurança antes do início dos trabalhos reforçam as práticas corretas.
Um sistema de feedback onde os trabalhadores possam relatar riscos ergonômicos e sugerir melhorias torna o processo mais participativo. A saúde ocupacional deve ser vista como investimento, não como custo.
Empresas que valorizam a proteção da coluna de seus colaboradores colhem benefícios significativos: redução de absenteísmo, diminuição de custos com tratamentos médicos e aumento da satisfação no trabalho.
Proteger a coluna não é apenas uma questão de saúde individual, mas um fator determinante para a sustentabilidade e sucesso do negócio.